sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

(re)encontrar. deixar ir. ser quem sou. a mulher que se orgulha de si.

 Estou em busca de mim.

Sinto muitas necessidades, umas mais evidentes que outras. Estava sentindo a necessidade de alguma coisa que “não sei o que” e acho que depois de desaguar na cama eu compreendi: estou com vontade de mim. Daquela Dri sensível que nunca deixou de existir. Daquela Dri resistente, que vê beleza até quando a tristeza se faz presente. A mulher que sente. Dona da própria vontade. Bicho solto.  

(Eu preciso ir, deixe-me ir eu preciso me encontrar).

Preciso me curar dos sentimentos do passado. Hoje desnudei esses sentimentos e chorei. Não sou de guardar as minhas emoções. Quando faço isso, meu corpo sente. Minha carne enfraquece. Eu não posso ir contra mim mesma. Não posso caminhar na contramão de meus próprios passos.

O que me causa muita ansiedade é pensar demais. Pensar demais em você, corrigindo.

Embora eu ainda acredite minimamente na possibilidade de ainda compartilharmos de momentos bonitos, me questiono se realmente é possível. Talvez não seja esse.

 Sinto medo do que você ainda é capaz de fazer. Eu não sei mais o que sua insegurança é capaz de fazer.

Quando penso em romper nosso vínculo abruptamente, é justamente pelo medo de você me machucar de novo e de novo. E eu só sinto esse medo ainda porque me sinto fragilizada quando vejo seu sorriso, seus trejeitos, seu olhar se encontrando com o meu. Quando vejo a sua culpa.  Quando penso nas coisas belas em que já vivemos, eu também lembro da tristeza que se escondia por trás do amor. E me perco no abismo que é sentir que nada do que vivemos foi real. Me pergunto se foi real. Na verdade eu me pergunto se para você foi real como foi para mim.

Eu já nem sinto mais vontade de pensar no que já aconteceu. Esses pensamentos só existem quando eu sou "convidada" a lembrar. Existem tantos gatilhos que me fazem lembrar da forma que você me tratava. E agora, depois que eu criei coragem de ir embora da sua vida, da sua casa, da nossa antiga relação, você vem dizer que me enxerga? Que sou bela, cativante, sensível, amável, que sente saudade do calor do meu abraço, do meu corpo deitado com o seu? Que se inspira em mim? Que aprende comigo? Que admira minha força? Acha justo mesmo ressaltar esses sentimentos de apego? Não é justo com o meu processo! Até porque eu não sinto vontade alguma de ser tudo isso, de ser tanto, de ser eu para você. 

Eu não preciso que você me veja para ser, eu simplesmente sou e vou continuar sendo eu. Não é justo demonstrar que sente falta da minha presença depois de tantas vezes que você me colocou para fora de seu coração. De sua humanidade. Mesmo na tentativa de me fazer ficar mais um pouco na sua vida, você conseguia me convencer de que ainda existia amor. Que ia mudar seu jeito. Que ia parar de competir e se comparar. Que ia dialogar mais. Eu vi o oposto da teoria. Por isso estou onde estou agora: em paz na minha casa, na minha pele, no meu espaço e dou valor a cada detalhe de meu presente, pois sei que não ter colocado limites me custou caro demais.

Eu tinha dezesseis anos, uma depressão, e a resistência de querer criar força e novas referências de ver o mundo. Eu caí na armadilha da co-dependencia. Caímos. Ambos não tínhamos capacidade de estar em relacionamento sem antes se descobrir. Embora eu saiba que nunca é tarde para despertar, eu me culpo demais por ter ficado tanto tempo numa relação que já não me fazia bem desde o início. Eu tento ser gentil comigo mesma, mas por não ter aprendido a dizer “NÃO” é que eu fui parar em um relacionamento que não precisava existir. Não daquele jeito. Romântico. Você me tratava como uma princesa. Me mimava, dava flores, chocolates, bilhetes, visitas surpresas, me dava atenção, vivia dizendo que me amava. Eu me apaixonei por esse cara. Aos dezesseis. Acontece que não dá para ter dezesseis anos para sempre.

Eu, na condição de ser um processo contínuo de mim mesma, não me permiti parar. Estava claro que eu ia crescer, Douglas. Você me conheceu independente. 

Eu enfrentei tantas coisas por te amar demais. Enfrentei até mesmo a mim. Meu eu se fundiu com o seu por muito tempo e isso é tão errado! Porque não existe amor nessa verdade. Não existe vida por trás da verdade de saber que eu me sacrifiquei tanto por causa de uma pessoa! Esse jeito de se relacionar só reforça os discursos que luto para não serem mais reproduzidos. Nos apaixonamos dentro de estruturas que moldam relacionamentos nocivos, porque nos ferem, nos limitam, nos privam da nossa subjetividade. Principalmente no que diz respeito a ser mulher e ocupar esse espaço dentro da relação. Casamento é um erro apenas para a mulher. Releia.

Basta olhar minhas antigas escritas e será possível perceber uma vida dupla. Um Dri que chora, e a que sonha. A Dri que chorava se lamentava demais. São infinitas páginas de lamentação, de choro, de trauma e mágoa. Eu já queria ter voado há muito tempo. Só não tive a coragem que tenho agora. E é disso que preciso me perdoar.

Sonhei tantas vezes com a liberdade... é natural que agora que eu a possua eu ainda não saiba muito bem o que fazer com ela. Eu vou aprender a usá-la. Firmo comigo esse compromisso de modo que o passado se finde de meu presente. Eu moro no agora. Eu habito minha pele. Eu pertenço a mim. Apenas a mim. Sou tão mais eu quanto antes. Antes mesmo de você.

  

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