Em estado de morte, canta aos
cantos a putrefação do pássaro morto! Maravilhoso espetáculo da vida! Sangue
estirado ao chão, o cheiro sobe e tudo quanto é morto respira. Sofrimento
ignóbil, a agonia silenciosa jaz em outro canto.
Alegria, quem
se importa?
Os olhos
secaram diante do absurdo! O que marca no rosto não é o tempo que passa, é a
mágoa do que não existe, é o riso afagado em mordidas pendidas ao canto dos
lábios, o choro que vem antes da consciência de ter acordado: o podre chega à
boca como pão de carniça!
Absurdo, quem se importa?
Quem é que
liga? Quem professa ajuda? Quem é que viu ou deixou de ver? Quem é que
disse quando tinha que dizer? Quem
lembrou quando tinha que esquecer? Todos os dedos apontam para um único ângulo:
a culpa de não ter feito nada por mim mesmo.
Eu vi um
pássaro morto e esmagado no asfalto no mesmo peso e na mesma medida que me vi
em estado de morte. É como se meus dedos estivessem podres e em alegria, tão
sútil, aqui não tenho nome. Estou em estado de morte quando acordo e tudo o que
sei fazer é bater a cabeça no travesseiro implorando por algum sentido que
mereça reza ou gratidão.
A tristeza vem
cantando silenciosa aqui e nem chorar consigo...
(Ainda sinto o
asfalto quente e sinto meu cheiro podre entrando em contato com o sol)