Sem devaneios! Não estou com
paciência para descrições, a cena é a seguinte: eu te amarrarei na cadeira e
colocarei um pedaço de silver tape em
sua boca que é para você fazer algo que nunca fez, ouvir. Parece absurdo não é
mesmo? Pois é, eu também acho.
Será que você suportaria ouvir?
Projeto inúmeras reações que você pode ter e nenhuma me parece satisfatória,
você é tão horrível em sua retórica e sua visão panorâmica de vida é tão
limitada que você insistiria nessa ideia sem nexo de sua certeza. Parece loucura
não é mesmo? Eu me sinto louca. Talvez eu tenha enlouquecido em todas as vezes
que tive que ser algo que eu mesma não gostava de ser e confesso, como em
contrição, que já devo ter dito palavras malditas e mal ditas, como uma língua
que expele espinhos e acerta em cheio a face alheia, mas figurar tal metáfora
dos espinhos é colocar um espelho frente ao nosso convívio e refletir a imagem
que mais me dói: você machucando a si mesma.
Eu sou fraca. Talvez eu não diria tudo ou diria tudo com
muitas resenhas e você só iria me odiar com mais intensidade; eu odeio seus
ódios momentâneos e o ódio que dura por alguns dias. Eu nunca sei se devo te
amar por mais que dois ou três dias, tão pouco saberia se deveria te amar
depois de oficialmente ser declarada sua não-filha: você negando o princípio de
minha existência.
Queria dizer tantas coisas, ah, mas se eu pudesse dize-las
todas sem tempo de covardia... Eu que te acho tão linda.... Eu, eu mesma. Sim,
eu, a sua filha que ás vezes se sente órfã, e faz dessa orfandade confusão,
tracejando incertezas na cabeça. Eu que entrei e entro com determinada
frequência nesse devaneio, nessa cena absurda que nunca acontecerá, nesses atos
que se sobrepõem, nessa imagem de você apenas ouvindo... Eu que tenho que aprender sozinha a ser
mulher todos os dias. Talvez se eu pudesse um dia dizer qualquer coisa nessa
mesma circunstância, faria dessa minha podridão de fraqueza o mais intenso sentimento e apenas te diria que
te amo, sim eu te amo.