quarta-feira, 6 de julho de 2016

Obrigada (?)

Se fôssemos rascunhar essa história mal escrita, e transpô-la em produção cinematográfica, garanto que seria um clássico decadente e mudo, em pleno silêncio para absorver na pele até causar ferida.
Imagino imagens ora lentas, ora longas, ora breves... mas sempre essas imagens que riscam o córtex aditivo com caco de vidro, para em seguida acariciá-lo com uma pena. 
(Eu sempre imagino nossa dança sobre estilhaços de vidro e nossos passos pelas penas).
Eu desaprendi a sorrir. Hoje parece-me tudo tão amargo, tão caro, tão pesado. 
Eu me sinto cansada, não, não me sinto deprimida. Mas parece que os olhos não olham mais com tanta cor, não têm mais a vividez que antes tinham. 
Eu não sei o que é pintar quadro com os olhos, como antes fazia por gosto. Eu aprendi demais, eu soube demais e creio que isso não encaixaria nesse roteiro porco e fétido de nossa história. 
Parece-me que saí de uma sala de cinema pós um filme bem sensorial, cujas imagens foram tão sinestésicas, e parece que não vou encontrar alguém para discutir esse filme. (Eu devo ter deixado minha voz lá dentro da sala, pois agora eu estou em silêncio).
Foi isso, foi isso que restou: silêncio.
Ora eu te odeio, ora eu não consigo dizer que te amei. E parece-me que agora esse filme barato ficará rodando sem parar, sem parar, sem parar e sem parar. 
Tem dias que penso que seja lá onde você esteja, você está a sorrir de mim. E tem outros que penso que nada disso tem importância para você.
(Hoje não me importa quantos pássaros mortos eu vá ver pelas ruas, eu naturalizei essa bagunça.)  

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